GCLIO

O Grupo Clio é uma associação de educadores dedicados ao ensino, pesquisa e cultura, sua fundação oficial se deu no ano de 2008, a partir dos anseios de um grupo de historiadores que buscavam construir um verdadeiro fórum de debate sobre inúmeras questões pertinentes a educação e a democracia em nosso país. Atualmente o GCLIO reúne educadores das mais diversas áreas e espaços de atuação com o propósito de ampliar os horizontes do nosso povo, construindo a unidade possível em torno da democracia e do republicanismo, e o consenso necessário da educação nas suas mais variadas vertentes. Defendemos a universalização do ensino público com a qualidade necessária para habilitar nossas crianças e jovens na vanguarda civilizacional através de dois pilares básicos a inclusão social e a participação política.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

REFLEXÕES GCLIO.

“O novo sempre vem”


Prof. Maurício Manoel
Membro do GCLIO.


Hoje em dia, em várias situações, sinto-me deslocado. Sinto-me fora do que se instituiu como realidade social. Não sou de uma geração tão distante, ainda nem vivi o terço de um século, mas esse curto espaço de tempo me fez perceber que as diferenças entre as gerações (cada vez mais subdividias) estão se tornando quase opositivas. Essas diferenças evidenciam-se em todos os âmbitos: comportamento, relações amorosas, cultura, educação, família etc. Atualmente, a “nova juventude” parece estar perdida, sem referências, à mercê das imposições trazidas pela moderna comunicação.

A década de 80, um dia, foi chamada de “década perdida”. A juventude da época transpirava rebeldia e fazia surgir movimentos que emanavam um certo toque de atitude. O momento mais rico do Rock Nacional se deu nesse período com o surgimento de artistas e bandas que ainda hoje são cantados e reverenciados no país inteiro. Essa “década perdida” produziu, e muito, se compararmos com os últimos vinte anos.

A partir dos anos 90, percebeu-se que certos valores, antes considerados válidos e corretos, estavam perdendo força e espaço para outros mais fetichistas e aparentes. Desculpem-me a voracidade das palavras, mas não encontro outras para descrever melhor essas atitudes.

A partir desse período, um show de fetiches começou a transformar parte de nossa juventude em “fantoches voluntários”, facilmente manipulados pela força da mídia e tragados pelos pulmões do capitalismo selvagem e sem escrúpulos. Claro que não só a juventude é vítima desse processo, mas os cuidados dados as próximas gerações virão dos jovens de hoje, por isso a responsabilidade é ainda maior e justificada.

Em tempos de “ter é melhor do que poder ter” e “o mundo é dos espertos” sinto que o rumo traçado pelos jovens de hoje vai de encontro aos valores que inocentemente me foram ensinados. Estudar para ser alguém na vida, respeitar os mais velhos, pensar no futuro, valorizar a família, cuidar do irmão mais novo, rezar antes de dormir; em meio ao que vemos hoje na televisão e que infelizmente é copiado por parte da sociedade, esses valores parecem ser extremamente caretas. Hoje, mais do que nunca, devemos considerar válida a máxima de que as aparências enganam.

O “aproveitar a vida”, atualmente, limita-se a muito pouco. Sem referências, nossa juventude deixa de ser jovem mais cedo, deslumbrada com a falsa impressão de que podem tudo, devem tudo, de que a vida é curta, portanto não precisam estudar porque o futuro é a morte. O errado atrai mais do que o certo e quando descobrem que as nuvens não eram de algodão têm que correr atrás do tempo perdido amargando que o tempo passou e não disse a hora certa.

A leitura não mais atrai os jovens, que preferem ouvir o som de músicas questionáveis em intensidade nada confortáveis a dedicar-se ao silêncio e terapia de uma boa leitura. É duro admitir que as novelas - com suas traições amorosas, crimes e falsidades – substituíram quase que completamente o livro, as boas conversas com os amigos, os momentos com a família.

Nos últimos dez anos, nossa juventude viu surgir poucas produções culturais de boa qualidade. Tanto na literatura quanto na música o que vemos é uma produção de glória efêmera que se torna referência por um curto espaço de tempo, pois é descartável e rapidamente perde corpo frente ao que realmente possui qualidade. Querer comparar as produções musicais e literárias atuais com as de antigamente é até covardia.

Pois bem, Elis Regina cantou que “o novo sempre vem”, Belchior estava certo ao escrever essa letra belíssima que fala de sua nostalgia. Saudosista? Talvez. Mas hoje esse “novo” me faz (e com certeza não só a mim) - por todos os motivos citados – ter um sentimento de nostalgia muito forte e às vezes incontrolável. Se é para ver o lado bom das coisas, é ótimo ter o que lembrar.



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